28 de julho de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Recentemente, lendo a página no Instagram do Lucas Pontes, que por sinal é um excelente perfil sobre autismo e autistas, vi o post dele sobre o Donald Triplett.

Imediatamente me lembrei de um lindo artigo de Kanner de 1946 – não, não sou dessa época, mas sou da época em que estudávamos Kanner (Irrelevant and metaphorical language in early infantile autism) em que ele citava seu paciente zero e a relação que ele fazia entre cores e os nomes das famosas quíntuplas nascidas no Canadá em 1935.

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As meninas, saiam para tomar sol todos os dias e três vezes ao dia por uma hora e, ali estavam, à espera delas, fotógrafos, jornalistas e curiosos de várias partes do mundo. As quíntuplas eram notícia. Caso raro para a década de 30 do século passado. Famosos como Clarke Gable e Bette Davis, entre outros, foram visita-las. Eram as garotas mais célebres do planeta. Seus nomes eram: Emilie, Cecile, Marie, Yvonne e Annette.

Um pouco distante dali, crescia Donald, um garoto que repetia palavras “sem sentido” e que nomeava seus potes de tinta de: Emilie, Cecile, Marie, Yvonne e Annette.

De acordo com Kanner:

“A falta de acesso à fonte exclui qualquer compreensão, e o ouvinte perplexo, para quem a observação não significa nada, pode facilmente presumir que ela não tem significado algum.” [2]. (1946, p. 162).

Donald Triplett, que nomeava seus potes de tinta das quíntuplas, era o paciente zero de Kanner. O psiquiatra, que não apenas medicava e diagnosticava; observava, estudava, e buscava a fonte das metáforas e descobriu pelo próprio Donald que, apesar das cores terem nomes, roxo, era apenas roxo.

Porque roxo é roxo e as outras cores possuem nomes? E Donald dispara: “Porque Annette e Cecile fazem roxo”.

Para quem não conhece a história das quíntuplas, cada uma delas usava uma cor de roupa: Annette era Azul, Cecile era vermelha e, as duas juntas, faziam o roxo.

Kanner buscou a fonte da metáfora e encontrou um rapazinho encantado pelas quíntuplas e por suas cores. Donald as via e as conhecia e Kanner percebeu que a falta de significado era do ouvinte.

Parte dessa história é contada no livro Outra Sintonia: a história do autismo, de John Donvan e Caren Zucker, traduzido para o português e à venda em livro.

[2] Tradução da autora: “Lack of access to the source shuts out any comprehension, and the baffled listener, to whom the remark means nothing, may too readily assume that it has no meaning at all”.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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