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Há dez anos, decidimos caminhar por um território onde quase ninguém queria olhar: o das potencialidades invisíveis. Em 2015, quando a Specialisterne chegou ao Brasil, falar em inclusão de pessoas autistas no mercado de trabalho ainda soava como utopia. As empresas buscavam perfis, discursos, comportamentos prontos e o que fugia ao padrão era simplesmente deixado de lado. A diferença era confundida com incapacidade.
Mas o tempo mostrou que a inclusão não é sobre dar espaço, e sim sobre ampliar o olhar. É entender que talento não tem formato único e que as competências que movem o futuro, como atenção, lógica, profundidade, foco, pensamento analítico, muitas vezes, estão onde o mercado não soube procurar.
O Brasil e a conta que não fecha
Três décadas depois da Lei de Cotas, ainda estamos longe de cumprir o básico. Segundo o Ministério do Trabalho, metade das vagas reservadas a pessoas com deficiência continua vazia. Entre os autistas, o abismo é ainda maior. Há profissionais brilhantes que nunca ultrapassaram a barreira da entrevista não por falta de preparo, mas porque os processos seletivos seguem moldados por códigos sociais que nem sempre traduzem competência.
A inclusão, quando existe, ainda se expressa em relatórios e não em rotinas. Em campanhas e não em práticas. O Brasil segue celebrando a diversidade no discurso, mas tropeça na hora de transformá-la em pertencimento real.
Uma década para aprender a ouvir
Nestes dez anos, aprendemos que incluir é escutar o que o silêncio também comunica. É adaptar ritmos, repensar ambientes, flexibilizar rotinas e, sobretudo, reconhecer que o trabalho é um espaço de encontro e não de enquadramento.
A Specialisterne nasceu da crença de que o autismo não é uma barreira, mas uma linguagem. Uma forma distinta e preciosa de perceber o mundo. E, quando as empresas aprendem essa língua, descobrem que a inclusão não é um favor, é uma revolução silenciosa que transforma o modo como se lidera, decide e cria.
Em agosto, essa voz ecoou também no CONARH 2025, o maior congresso de gestão de pessoas da América Latina. Estar ali, no palco principal, ao lado de lideranças e representantes da causa, foi mais do que simbólico, e sim de uma década dedicada a mostrar que incluir é um ato estratégico, não assistencialista. Que o futuro das organizações será inclusivo, ou simplesmente não será.
O futuro que começa agora
Ao completar dez anos no Brasil, celebramos não apenas os empregos gerados ou os programas implantados, mas o amadurecimento de uma consciência coletiva. A de que não existe inovação sem empatia e que as empresas mais humanas são, também, as mais preparadas para o amanhã.
Ainda há uma conta que o Brasil não fecha, mas há também um movimento que cresce e é nele que acreditamos. Porque incluir é, antes de tudo, reconhecer que o mundo é maior quando cabe mais gente dentro dele.
Marcelo Vitoriano





