26 de outubro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

O autista adulto vive uma realidade de solidão e invisibilidade, segundo inúmeros depoimentos em consultório e na mídia.

O autista não carrega uma tag; apesar dos várias tags construídas pela sociedade atual, e, exatamente por isso NÃO tem cara de autista, apenas é. Durante décadas pudemos supor que não havia espaço de fala ou não deram voz ao autista. Muito pior que isso, NÃO HAVIA ESCUTA para eles. Seus comportamentos não eram compreendidos como comunicação, suas falas eram interpretadas por um adulto típico (geralmente capacitista) e, quando falavam, eram desqualificados justamente por serem autistas.

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Pessoalmente, sempre fui fascinada pela forma de pensar e agir autista. Quando jovem, ouvia a musica “The whole of the moon” do The Waterboys e para mim era a tradução do que seria ser autista: “eu estava grudado ao chão enquanto você preenchia os céus”. Ouvia a música não com romantismo, mas acreditando que enquanto estivéssemos presos nas evidências e fatos, perderíamos o conhecimento da beleza de um pensamento muito diferente do típico.

Marcelo Tas, em seu programa de 18 de outubro #Provoca, exibido pelo YouTube e TV Cultura, trouxe a autista Tabata Cristine como convidada. Não há pontos altos do programa, ele é em si O ponto alto. Muitas frases profundas e de uma exigência de reflexão, impares. Uma delas, discorrendo sobre estereotipias, alega ter postado seus stims na rede (@tabata_meumundoatipico) “não quero que as pessoas tenham a imagem da pessoa perfeita da internet” .

E é sobre isso: não são perfeitos, não são anjos, não são autossuficientes no que se refere ao social, não precisam de voz ou lugar de fala; precisam ser ouvidos.

A discrepância entre o olhar típico e atípico de enxergar o mundo, ao meu ver, nos coloca em xeque sobre nossa própria ambiguidade, característica típica, tão peculiar e confusa. Achamos que ao silenciarmos nossos ouvidos aos autistas, podemos ‘ensinar’ como agir em ‘nosso mundo’.

O mundo não é dos típicos; o mundo é mundo, são formas de entender e viver o mundo que nos torna únicos. Precisamos perguntar sempre, olhar para nossa forma de nos comunicarmos, de tocar as pessoas e de estar com. Enfrentarmos nossa ambiguidade diante dos desejos, dos quereres e das relações. Tornar pertencente e visível toda forma de ser.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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