13 de novembro de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

É surpreendente como, para uma pessoa autista, enxergar o lado bom da vida se tornou um ato subversivo. Eu conheci a infelicidade profunda e cheguei a acreditar que minha vida seria sempre assim. Contudo, escolhi um caminho diferente, que rejeita a visão 100% médica e fatalista da minha condição.

Devo essa perspectiva, principalmente, à minha mãe. Ela jamais aceitou os prognósticos de que eu seria dependente para o resto da vida ou incapaz de concluir uma graduação. Hoje, felizmente, estou no doutorado, e o autismo é o foco central de minhas pesquisas.

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CBI of Miami - 20250424

A mudança de percepção sobre autismo e sofrimento na última década

O que me dói é a mudança de percepção. Quando comecei a produzir conteúdo sobre autismo em 2015, ser uma autista considerada “bem-sucedida” era motivo de admiração. Agora, parece ser motivo de raiva. Muitos influenciadores — incluindo mães e profissionais de saúde — alegam que, ao celebrar nossas vitórias, estamos invalidando a perspectiva médica de que o autismo só existe se trouxer prejuízo.

A lógica imposta é que, se outros autistas não conseguiram o que eu consegui, eu deveria me esconder para não “romantizar” o autismo. Palavras como “psiquiatria” e “ciência” tornaram-se chavões para descredibilizar qualquer autista que ouse desafiar prognósticos ruins. A máscara cai: atacam sem dó quem, mesmo tendo prejuízos reais, se recusa a focar neles.

Autismo e sofrimento vindo dos ataques de influenciadores, o que fazer com isso?

Eu escolho romper esse ciclo de violência, que ataca pessoas reais, não uma abstração. As ciências, que são muito mais amplas que a medicina, não existem para me sentenciar, mas para me oferecer possibilidades. Sou grata por ter uma equipe médica que potencializa minha força e lamento que nem todos tenham esse acesso.

Sinto muito, mas não vou me entregar a comportamentos autolesivos, que já me levaram à depressão profunda, apenas para validar a percepção ideológica de terceiros. Prefiro seguir sendo autista — o que não é uma escolha — e, acima de tudo, humana, fazendo da minha existência a melhor experiência possível.

(Originalmente publicado em O Mundo Autista, no portal UAI)

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Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

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