14 de julho de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

No autismo, para quem está dentro do espectro e possui linguagem oral, existe uma frase recorrente: Desculpe, mas… Quando começo a perceber que ela aparece muito em meus diálogos, isso me serve de sinal de alerta.

Infelizmente, é o que vem acontecendo nos últimos meses. O que é muito ruim para mim, pois me desorganiza. Aliás, dependendo da intensidade da desorganização, costumo travar. Esse é o meu maior pesadelo. Ou, em outras palavras, quando no autismo surge a frase recorrente: “Desculpe mas…”, entenda como um sinal de alerta. No meu caso, mulher adulta, (tá bom, tá bom. Mulher 60+), a sequência dos fatos costuma ser:

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Pois então. É exatamente isso que acontece. Em determinadas circunstâncias, as pessoas autistas vem tudo com lente de aumento. Aliás, isso faz parte de nossas características. Não depende, portanto, de nossa vontade. Dessa maneira, podemos ser crianças, adolescentes, adultas ou 60+. Não é o caso de aprender e ser madura. Dá para entender?

Autismo e a frase recorrente: “Desculpe mas é que eu…”

De verdade, eu penso que se nos dispomos a nos relacionar com uma pessoa, devemos conhecer um pouco mais sobre ela. Em uma via de mão dupla, certamente. Mas, acontece que, no geral, as pessoas se apressam a dizer que não tem tempo. Assim, a pessoa autista que cresceu com a sensação de inadequação, se desculpa sempre pelo tempo tomado da pessoa, pela interrupção do diálogo de forma abrupta ou por:

não olhar diretamente para você,

não conseguir dar uma resposta no tempo que você determinou,

chorar demais,

gargalhar alto em ocasiões inadequadas definidas pelo senso comum,

não dizer ‘eu te amo’ nunca,

dizer ‘eu te amo, sempre’,

não ter entendido um comando e sequer perceber que não entendeu,

não poder prometer que aquela atitude jamais se repetirá, quando a pessoa autista sabe que isso não depende somente do desejo dela,

apertar as pontas de todos os dedos quando fala está com um grupo de pessoas,

amar demais e só fazer o que parece desagradar o outro,

não ser o filho idealizado pelos pais,

ser um aluno que ‘dá trabalho’,

não conseguir chamar os avós de ‘senhor’ e ‘senhora’,

parecer imatura ou manter atitudes imaturas mesmo com o passar dos anos,

não conseguir falar ao telefone,

ou mesmo saber quando a troca de mensagens pelo WhatsApp chegou o fim…

e, claro, por se desculpar a todo momento.

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Jornalista e relações públicas, diagnosticada com autismo, autora dos livros "Minha Vida de Trás pra Frente", "Dez Anos Depois", "Camaleônicos" e "Autismo no Feminino", mantém o site "O Mundo Autista" no Portal UAI e o canal do YouTube "Mundo Autista".

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