6 de abril de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Recentemente, vivi uma experiência muito particular nas ruas de São Paulo. Em 13 de março, estive na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo em uma reunião com a Secretaria Silvia Grecco para apresentar o projeto Eu Me Protejo e pensar em ações que pudessem divulgar o trabalho de prevenção à violência infantil e de pessoas com deficiência. A comunicação da Secretaria tirou fotos e Silvia gravou um vídeo durante o encontro. Tudo foi postado nas redes sociais no mesmo dia.

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Obviamente, tive outros compromissos durante a semana e, para minha surpresa, fui parada algumas vezes por pessoas aleatórias com a seguinte pergunta: “Ei, você não estava com a mãe do Nick no Instagram?” Demorei um pouco para entender do que se tratava e confesso que fiquei maravilhada com a surpresa. Eram torcedores Alviverdes que reconheceram a Silvia, mãe do Nick, e estavam me reconhecendo. Silvia ficou conhecida por ser “a mãe que narra os jogos de futebol para o filho autista e cego; torcedor palmeirense”. Sua atuação nas partidas foi ficando famosa e Nick, conhecido como um verdadeiro torcedor.

O Nick era a “bola da vez”, saindo da invisibilidade e sendo uma pessoa legitimada por um grupo enorme de pessoas: um palmeirense.

É de nosso conhecimento que as torcidas têm aberto espaço para torcedores autistas, e que os estádios contam agora com salas especiais antirruídos para acomodar os torcedores com TEA e muito mais acessibilidade para pessoas com deficiência.

Para além da acessibilidade, o que me chama a atenção é a visibilidade. É o reconhecimento e acolhimento das torcidas, sejam de que time for, abraçando e abrindo espaço para a diversidade. Atualmente, são inúmeras torcidas organizadas de autistas, sendo recebidas respeitosamente pelos estádios e pelas torcidas neurotípicas.

Fico aqui pensando que o futebol é realmente um esporte mágico; abraça tudo e todos de uma forma a construírem uma nação. Provoca um alcance de suas atitudes que nos chega em ondas, abrangendo um oceano de pessoas. É claro que o fato de existirem torcidas de todos os times faz com que a escolha do time seja a única diferença não absorvida. Aqui mora uma grande dor que, há quem diga, a presença dos autistas poderá criar uma onda de paz entre elas. É o que esperamos.

Como uma não torcedora de jogos de futebol, tiro meu chapéu para o enfrentamento social que tivemos recentemente pelas torcidas; tiro meu chapéu pelo movimento de visibilidade das pessoas autistas e ainda, tiro meu chapéu pela união que caracteriza cada torcida. Parece que rumam para se tornarem exemplo de força e respeito. Algo que precisa, urgentemente, deixar de ser exclusivo aos seus próprios times e virar um pacto grandioso de paz.

O que vem acontecendo dentro das torcidas precisa ser espalhado para toda a sociedade, porém, para tanto, vão precisar mostrar que são capazes de atos não violentos contra seus adversários. A sociedade precisa da força e do respeito que existe em vocês, mas enquanto houver violência nos estádios, não os ouviremos.

Torcidas alviverdes, alvinegras, alvitricolor, e tantas outras, aceitem as diferenças fora dos estádios também. Temos muito o que aprender com vocês enquanto torcidas sobre inclusão e legitimidade. Que fique a mensagem de paz e sobre a incrível visibilidade de um autista torcedor.

Obrigada, Nick Grecco.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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