Tempo de Leitura: 2 minutos
Vivemos tempos estranhos, nos quais a sociedade trocou os valores tradicionais, como a gentileza e o apreço à comunidade, pela adoração aos grandes mitos do poder. Assim, o sucesso a qualquer custo, a influência que negligencia o outro e a ostentação tornaram-se as narrativas dominantes. Enquanto isso, a simplicidade, para muitos, tornou-se sinal de fraqueza.
Rumo à Serra Gaúcha: em busca do sonho
No entanto, há momentos em que o cinismo do mundo adulto precisa dar uma trégua. É aqui que entra a figura do Papai Noel. Para muitos, ele pode ser apenas um construto comercial. Mas, quem decide olhar mais fundo, percebe um símbolo de resistência. Isso por representar a fé no invisível e a esperança de que a bondade, sem exigir nada em troca, ainda é possível. Portanto, acreditar nessa magia não é fugir da realidade, mas sim escolher, propositalmente, manter uma chama de inocência acesa. E com isso, optar por acreditar na fé, nas pessoas e que as boas ações serão recompensadas. Dessa forma, o mundo não apenas torna-se menos hostil, como fica mais fácil transitar por ele e transformá-lo para melhor.
Foi com esse pensamento em mente que fiz as malas rumo à Serra Gaúcha, especificamente para as cidades de Canela e Gramado, no Rio Grande do Sul. O objetivo era assistir a um espetáculo de Natal. Com isso, buscar aquele “Sonho de Natal” que ambas as cidades prometem.
Vivências no Natal na Serra Gaúcha e autismo: socialização e superação
Houve momentos de desafio, claro. A estrada, a mudança de rotina, o calor e a multidão que se aglomera para ver os shows de luzes; tudo isso exige muito sensorialmente de pessoas autistas. No entanto, é importante para a gente se desafiar e socializar. Assim, fizemos novos amigos, dos 15 aos mais de 60 anos de idade. Além disso, vivemos experiências novas, como comer fundue e desafiar o meu medo de altura em uma roda gigante. Também encontramos seguidores do nosso canal “Mundo Autista” e fomos reconhecidas em meio a uma Gramado superlotada. Enxergamos o passeio pelo gosto da descoberta, da interação e da superação de velhos traumas e crenças. Tudo isso foi muito prazeroso.
O verdadeiro poder do Natal na Serra Gaúcha e autismo: conexão humana
Percebi que o verdadeiro poder não está naqueles mitos modernos de dominação que a sociedade tanto venera. O poder real estava ali: na capacidade de sair de casa, de enfrentar o desconforto da quebra de rotina e de se permitir conectar com a magia do Natal, com uma boa dose de calor humano. Já em Canela, diante da grandiosidade do espetáculo artístico, a multidão tornou-se secundária em meio à narrativa de esperança encenada.
Então, ao ver o Papai Noel acenar lá no alto, entendi que a viagem valeu a pena. Não apenas pelo show, mas pela vitória silenciosa de estar lá, presente e sentindo tudo à minha maneira singular. A fé e a esperança, afinal, são os valores que nos sustentam quando o mundo lá fora tenta nos convencer de que apenas o poder importa.
Sophia Mendonça




