1 de dezembro de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

Lá em casa, o tempo tem outro fuso.
Enquanto o mundo gira em 24 horas, o nosso gira em “ciclos de atenção contínua”.

Gabriel, nosso filho autista, está entre os níveis de suporte 2 e 3, o que, em tradução livre, significa que ele precisa da gente praticamente o tempo todo. É como viver num plantão que nunca termina, mas com mais amor do que qualquer escala de hospital.

Publicidade
Matraquinha

A Grazy e eu aprendemos a nos comunicar no olhar.

Um levanta a sobrancelha e o outro já sabe: “banho ou jantar?”. O dia começa cedo, termina tarde e, no meio, tem de tudo, desde convencer o Gabriel a escovar os dentes até tentar fazer com que ele não saia correndo porta afora porque ouviu o barulho de um caminhão na rua.

E quando, milagrosamente, sobra um tempinho pra gente, casal, a cena é digna de comédia romântica… sem romance, sem trilha sonora e com muito sono.
— “Amor, vamos ver um filme?”
— “Bora. Qual o mais curto que tem?”
Começamos animados, prometendo que “desta vez vai”.
Mas, vinte minutos depois… pause.
No outro dia, retomamos de onde paramos, se lembrarmos.
Um filme de 1h40 costuma durar três dias por aqui. E se tiver legenda, aí é minissérie com temporada garantida.

As séries também resolveram conspirar contra os pais exaustos. Antes tinham vinte minutinhos, perfeitas pra assistir enquanto o Gabriel brincava e a Agatha, nossa filha de sete anos, fazia mil perguntas sobre o universo. Agora têm uma hora. Uma hora! Claramente criadas por alguém que não tem filhos, nem Netflix parcelada em prestações de 20 minutos.

A Ágatha, por sua vez, também tem as demandas dela, e a gente tenta equilibrar os pratos da vida, cada um girando numa velocidade diferente. Tem dias em que parece que estamos participando de uma olimpíada invisível de resistência emocional. E o ouro, na maioria das vezes, é conseguir chegar até o fim do dia com todo mundo vivo, alimentado e (mais ou menos) feliz.

No fundo, a vida é isso: uma coreografia improvisada entre o caos e o amor.
Ser pai e mãe do Gabriel é desafiador, sim, mas também é transformador. A gente vive no modo automático, mas é um automático cheio de propósito, afeto e (muitos) cochilos não programados.

E, se por acaso você também está nesse modo, aquele em que o botão pause é o mais usado da casa, saiba que não está sozinho.
Conta pra gente: qual foi o filme que você começou e ainda não terminou? Ou o episódio da série que parou “rapidinho” e está pausado até hoje?

Quero ouvir suas histórias. Vai que, juntos, a gente consegue assistir até aos créditos.

COMPARTILHAR:

Pai do Gabriel (que tem autismo) e da Thata, casado com a Grazy Yamuto, fundador da Adoção Brasil, criador do app matraquinha, autor e um grande sonhador.

Editorial — Revista Autismo nº 31

Tô no Jogo – O tênis como acolhimento e transformação

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine aqui a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)