31 de outubro de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

Hoje eu quero falar sobre o hiperfoco em Bruxas e as Mulheres Autistas. Afinal, meu hiperfoco em bruxas é antigo e atravessa gêneros. Portanto, vai de contos de fadas e terror a sitcoms clássicas como “A Feiticeira” e “Sabrina”. No entanto, meu fascínio nunca foi apenas sobre caldeirões ou feitiços. Foi, e sempre será, sobre encontrar representação.

Na ficção, as bruxas são frequentemente mulheres que possuem um “sistema operacional” diferente do mundo ao seu redor. Assim, elas têm habilidades que outros não compreendem, como o hiperfoco ou a hiperempatia, e são sensíveis a estímulos que os demais ignoram. Além disso, as bruxas muitas vezes são punidas por não conseguirem — ou não quererem — se conformar.

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Neste Halloween, ao celebrar esse hiperfoco, celebro também a comunidade de mulheres autistas. Isso porque nós somos aquelas que, como as bruxas, fomos ensinadas a nos esconder. Mas, assim como elas, estamos redescobrindo o poder de sermos autênticas, de encontrar nosso “clã” (coven) e de entender que nossa “magia” não é um defeito. E sim, nossa natureza.

O fardo geracional da culpa, o hiperfoco em bruxas e as mulheres autistas

Essa conexão fica clara em obras como “Da Magia à Sedução”. O livro começa com uma citação poderosa: “Por mais de duzentos anos, as mulheres Owens foram culpadas por tudo que deu errado na cidade.”

Essa frase é perfeita por estabelecer que não se trata de um evento isolado, mas de um padrão histórico. Isso porque a “culpa” é um fardo geracional, imposto à família por ser diferente. Dessa forma, revela-se uma analogia direta ao fardo que mulheres autistas muitas vezes carregam por interações sociais fracassadas ou por problemas alheios que não eram sua responsabilidade.

Sabrina e a metáfora definitiva do masking

De todas as representações, minha bruxa preferida é Sabrina, a versão que Melissa Joan Hart interpretou na série dos anos 1990. Aliás, “Sabrina: A Aprendiz de Feiticeira” apresenta uma das metáforas mais poderosas do masking autista na cultura pop.

A premissa central da sitcom é a necessidade de Sabrina esconder sua verdadeira identidade de bruxa para se passar por “normal” no Plano Mortal. Essa dissimulação constante reflete diretamente a exaustão do masking autista, onde mulheres suprimem comportamentos naturais e imitam roteiros sociais.

A análise do hiperfoco em bruxas e as mulheres autistas em Sabrina se aprofunda em pontos específicos:

  • A falta do “Manual de Instruções“: A dependência de Sabrina de seu livro de regras mágicas e dos conselhos explícitos de suas tias ecoa o sentimento autista de “nascer sem o manual” para as interações sociais implícitas.
  • Pensamento literal: O caos que frequentemente surge de suas interpretações literais de feitiços e problemas sociais espelha o pensamento literal autista e as dificuldades em navegar a ilógica complexidade das normas sociais.
  • O espaço seguro: Seu relacionamento com o gato Salem, o confidente não-humano com quem pode ser 100% ela mesma, representa o espaço seguro. Isso é análogo à afinidade comum que pessoas autistas encontram em animais, com quem sentem que podem finalmente abandonar o masking.

(Originalmente publicado em O Mundo Autista, no portal UAI)

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Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

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