1 de setembro de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

O mês da conscientização do autismo, em abril, já está bem consolidado, com muitos eventos relacionados ao autismo ocorrendo nesse período. Em contraste, o Dia do Orgulho Autista, em 18 de junho, ainda é pouco conhecido. Mesmo entre quem conhece a data, percebo falta de clareza: se já existe o Dia da Conscientização, por que também o Dia do Orgulho?

Muitos reagem com estranhamento: como assim, orgulho de ser autista? Afinal, o autismo é uma condição séria, que impacta profundamente a vida da pessoa e de sua família. Para essas pessoas, quem fala em orgulho autista deve estar entre aqueles autistas que estudam, trabalham, se casam, têm filhos – muito diferentes dos autistas que precisam de apoio ao longo da vida. Mas essa reação quase visceral a qualquer associação positiva com o autismo mostra justamente porque o Dia do Orgulho Autista é tão necessário.

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Apesar do que o nome sugere, o orgulho autista não é apenas sobre sentir orgulho individual. Trata-se de um movimento político e coletivo, com base histórica. Pessoas autistas já foram – e ainda são – tratadas como menos que humanas. A maioria dos estudos busca nos diagnosticar, curar (curar o quê, exatamente?), ou mesmo prevenir que existamos.

As terapias voltadas a pessoas autistas, na maioria das vezes, são medidas pelo quanto a pessoa se torna “menos autista”: faz menos movimentos, age de forma mais aceitável para os não autistas, se comunica como o esperado. Pesquisas que focam na qualidade de vida do autista são raras – e, quando existem, em grande parte são conduzidas por pesquisadores autistas, movidos pelo interesse em transformar a realidade da própria comunidade. O problema é colocado em nós: somos nós que devemos mudar para “caber” na sociedade.

Em inglês, pride significa “orgulho”, mas também designa um grupo de leões. Gosto de imaginar autistas reunidos, rugindo juntos: não somos um erro. Temos tanto direito de estar na sociedade quanto qualquer outra pessoa. Sempre estivemos aqui. Nossas mãos também ajudaram a construir o mundo. Quantas invenções e descobertas foram feitas por autistas que puderam se dedicar ao que amavam? Quantos artesãos autistas criaram obras refinadas após anos de intensa dedicação? E um ponto fundamental: nossos direitos enquanto cidadãos não podem depender de supostos méritos, de uma avaliação preconceituosa acerca de nossa utilidade para a sociedade. O suporte e o apoio que necessitamos não pode estar vinculado a uma mudança radical em quem somos, mas são condição primeira e necessária para que possamos ser cidadãos plenos nessa sociedade.

Por tudo isso, o orgulho autista é um ato de resistência e transformação. Um passo para construirmos uma sociedade que pare de nos excluir por sermos diferentes, e comece a respeitar e valorizar nossas singularidades.

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é autista, ativista e mestre em Educação.

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