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Com o anúncio do governo dos Estados Unidos, ontem (22.set.2025), tratando como comprovada a ligação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o risco de autismo nos filhos, um dos estudos científicos que mais tem sido citado é uma pesquisa sueca, publicada em abril de 2024 na renomada revista científica Jama, que investigou o “Uso de acetaminofeno (paracetamol) durante a gravidez e o risco de autismo, TDAH e deficiência intelectual em crianças”. O trabalho concluiu justamente o contrário: não encontrou evidências de que o uso do medicamento por gestantes aumente o risco de transtorno do espectro do autismo (TEA), déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou deficiência intelectual em crianças.
Termos diferentes, mesma substância
Vale esclarecer que no Brasil e na Europa o nome usado é paracetamol, enquanto nos Estados Unidos e no Canadá utiliza-se o termo acetaminofeno (acetaminophen, em inglês). Ambos se referem à mesma substância, apenas com nomenclaturas distintas.
O estudo sueco analisou dados de mais de 2,4 milhões de crianças nascidas entre 1995 e 2019, comparando registros de saúde materna e infantil. Para reduzir distorções, os cientistas utilizaram análises com irmãos — em famílias onde um filho foi exposto ao paracetamol na gestação e outro não. Mesmo com esse rigor metodológico, não foi encontrada associação significativa entre a exposição ao medicamento e os diagnósticos de TEA, TDAH ou deficiência intelectual.
Ciência versus discurso político
A posição do governo norte-americano, ao apresentar como “causal” essa relação, gerou críticas da comunidade científica internacional. No Brasil, especialistas reforçaram a necessidade de cautela. “Não há nenhum dado científico robusto que sustente essa afirmação de causalidade”, afirmou o neuropediatra Paulo Liberalesso, destacando que é preciso distinguir correlação de causa e efeito.
Indústria farmacêutica
O medicamento mais famoso no mundo que contém paracetamol é o Tylenol, fabricado pela empresa estadunidense Kenvue. Criada em 2023 após um spin-off da divisão de cuidados pessoais da Johnson & Johnson, a Kenvue é uma companhia independente de produtos de saúde do consumidor, dona também de marcas conhecidas como Neutrogena e Band-Aid. Sediada nos Estados Unidos, a empresa possui fábricas em outros países, como o Canadá, e está listada na Bolsa de Valores de Nova York desde maio de 2023.
Apesar de ser uma marca norte-americana, grande parte dos componentes usados na fabricação do Tylenol — especialmente o princípio ativo, o paracetamol (acetaminofeno) — tem origem chinesa. Estima-se que 84% do suprimento mundial de acetaminofeno seja produzido entre China e Índia. A China, em especial, é hoje uma das maiores fornecedoras de ingredientes farmacêuticos ativos (APIs) do planeta, incluindo o paracetamol, exportando para diferentes mercados, segundo reportou o Los Angeles Times em 2020 (leia aqui).
O estudo original, na íntegra, pode ser baixado no site da Jama: neste link. Para quem quiser um material mais didático sobre o tema, logo abaixo também está disponível um podcast, criado por inteligência artificial, que explica os principais pontos dessa pesquisa.