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Recentemente, uma reportagem da EPTV, assinada pela repórter e amiga querida Francyne Perácio, trouxe à tona uma recente e questionável prática, a polêmica dos chás de revelação de autismo. Essa tendência, inspirada nos chás de revelação de gênero, viralizou nas redes sociais. Com isso, gerou um intenso debate sobre a forma como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é abordado.
Críticas à polêmica dos chás revelação de autismo
A principal crítica a essa prática é que ela simplifica e invisibiliza a complexidade do autismo. Assim, transforma um diagnóstico sério em um espetáculo público. Isso pode reforçar estigmas, dar a falsa impressão de que o autismo é uma “surpresa”. E ainda, pode incentivar o sensacionalismo em torno de uma condição que exige avaliação cuidadosa e acompanhamento especializado.
Fui diagnosticada com autismo em 2008, numa época em que pouco se sabia sobre as nuances do espectro. Na minha adolescência, a vida era um sofrimento constante. Afinal, viver em um mundo cujas regras eu não entendia era exaustivo. Dessa forma, até as situações mais simples se tornavam grandes tempestades de dor e frustração. Na época, era mais fácil culpar o autismo, uma abstração, por toda essa dor.
No entanto, foi a partir do momento em que me aceitei como autista que pude transformar minha relação com o mundo. Assim, aprendi a lidar com as armadilhas da minha mente, a valorizar minhas potencialidades e a me relacionar de forma mais saudável. Também descobri que apontar culpados e cair no vitimismo não ajudava em nada. Pelo contrário, reforçava um ciclo de pensamentos prejudiciais.
O que a polêmica dos chás revelação de autismo revela?
Por mais estranho que pareça, a popularidade desses chás revela que o autismo já não é tão estigmatizado quanto antes. Essa mudança sugere que hoje, uma pessoa pode ser vista como autista sem ser completamente segregada. Por um lado, isso é positivo, pois mostra que o autismo “não tem cara” e que o espectro se manifesta de forma diversa. Por outro lado, a banalização pode abrir espaço para discursos que minimizam a condição. Com isso, pode prejudicar o acesso a direitos e a cuidados necessários para os autistas, que são uma população vulnerável. Essa constatação deveria ser um alerta para que os diagnósticos sejam ainda mais cuidadosos. E não para que a condição seja banalizada.
Eu entendo que um adulto comemore seu diagnóstico, pois ele pode ser o início de uma jornada de autocompreensão e autoaperfeiçoamento. Então, naturalizar o autismo e aprender a viver bem com suas características é maravilhoso. No entanto, não defendo os “chás de revelação” porque a forma como comunicamos nossa vivência ao mundo também importa. Fazer disso um espetáculo público e superficial demonstra uma falta de cuidado a uma sociedade que já se preocupa pouco com os autistas e que, assim, pode se sentir ainda mais à vontade para preconceitos e descriminações.
Conclusão
Portanto, a alegria de um “chá de revelação” pode ser rasa e passageira. Para nós, autistas, o mais importante é a jornada pessoal de autoconhecimento e adaptação. E isso não se constrói em um único dia de espetáculo. Mas sim, no processo contínuo de cuidado e busca por suporte em áreas como saúde, educação e lazer.