1 de agosto de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

No último dia 24 de julho, a Lei nº 8.213/1991, conhecida como Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (PCDs), completou 34 anos. A legislação foi criada com o objetivo de promover a inserção das PCDs no mercado de trabalho por meio da reserva de cotas em empresas, de acordo com o número de empregados.

Esse percentual varia entre 2% para empresas com 100 a 200 funcionários e 5% para aquelas com mais de 1.000 empregados. Apesar de a Lei de Cotas ter possibilitado o acesso ao mercado formal de trabalho por parte de pessoas com deficiência nas últimas décadas, ainda existem diversos desafios, especialmente relacionados à inclusão de outros grupos, como as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Publicidade
Genioo

De acordo com dados da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre janeiro e junho de 2025 mais de 63 mil pessoas com deficiência ou reabilitadas pela Previdência Social foram contratadas em todo o país. A região Sudeste teve o maior número de contratações, com 35.285 admissões, seguida pela região Sul, com 12.221.

Principais desafios para a contratação de trabalhadores com deficiência

Embora os dados demonstrem a eficácia dessa política afirmativa para a população com deficiência, que historicamente esteve fora do mercado de trabalho, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para garantir oportunidades de acesso igualitário ao emprego formal.

O próprio levantamento do Ministério do Trabalho revela que apenas 53% das vagas previstas pela Lei de Cotas estão preenchidas. Esse número é considerado baixo, principalmente ao se levar em conta o grande contingente de trabalhadores com deficiência aptos para ocupar essas vagas. É nesse grupo que se encontram também os trabalhadores autistas.

As principais barreiras para esse cenário desfavorável incluem a falta de oportunidades, o preconceito, processos seletivos lentos e com foco na deficiência em vez das habilidades, além da ausência de planos de carreira para esse público. Esses fatores dificultam que a população autista também se beneficie plenamente da lei.

Em razão dessas dificuldades e da limitada fiscalização quanto ao cumprimento da legislação, muitas empresas optam por pagar a multa pelo descumprimento da Lei de Cotas, que varia de R$ 3.125,07 a R$ 321.505,87 por trabalhador não contratado, conforme a Portaria Interministerial nº 23, assinada em janeiro deste ano.

O futuro da legislação e os riscos ao direito ao trabalho

É consenso que a Lei de Cotas representou um marco para garantir o acesso ao mercado de trabalho das pessoas com deficiência. Posteriormente, ela também inspirou outras legislações, como a Lei Berenice Piana, voltada para os direitos das pessoas autistas, e a Lei Brasileira de Inclusão, que completa dez anos em 2025.

Entretanto, como aprendi nas aulas de sociologia durante o curso de jornalismo, as leis são importantes instrumentos reguladores de políticas públicas, sobretudo para assegurar direitos a grupos historicamente subrrepresentados na sociedade. No entanto, por si só, as leis não transformam a realidade. O primeiro passo para combater o preconceito contra as PCDs deve ser a educação.

É necessário investir em campanhas educativas que demonstrem que a contratação de pessoas com deficiência deve ser uma atitude de responsabilidade social, e não apenas o cumprimento de uma obrigação legal que pode ser evitada mediante o pagamento de uma multa. Essa prática contribui não só para indicadores econômicos, mas também para a dignidade e autoestima dos trabalhadores com deficiência.

Mudanças e avanços são essenciais. Todavia, é preciso cautela para não dar passos maiores do que as próprias pernas, sem esquecer de preservar aquilo que foi conquistado com esforço ao longo dos anos. A pejotização dos empregos, por exemplo, tem ameaçado os direitos trabalhistas das PCDs. Caso não haja cuidado, todo o progresso alcançado até agora poderá ser perdido.

COMPARTILHAR:

Jornalista, autista e ativista na luta antirracista.

Evento sobre autismo reúne mais de 200 pessoas no Acre

Autistas adultos contam experiências e desafios em viagens

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine aqui a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)