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Você já ouviu falar no conceito de economia criativa? Esse setor representa 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) global, conforme estudo divulgado em 2023 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o SEBRAE, a economia criativa pode ser definida como “negócios desenvolvidos a partir do conhecimento intelectual dos indivíduos”. Estimativas indicam que, até 2030, esse setor pode gerar até 1 milhão de empregos.
Ainda segundo o SEBRAE, os negócios da economia criativa envolvem bens e serviços de valor econômico baseados na criatividade, abrangendo áreas como tecnologia, design, cultura e moda. Como já mencionei em outras publicações, um dos grandes desafios para a inclusão dos autistas no Brasil é o acesso ao mercado de trabalho.
O empreendedorismo como alternativa às barreiras do mercado de trabalho para autistas
Diante das dificuldades de inserção no mercado de trabalho — causadas tanto pelo capacitismo quanto por problemas estruturais que dificultam a contratação de autistas — o empreendedorismo surge como uma alternativa para aqueles que desejam evitar a informalidade e conquistar independência financeira.
Um dos setores mais relevantes da economia criativa é o de serviços, que se destaca na economia brasileira. Segundo o último levantamento do PIB de 2024, realizado pelo IBGE, o setor de serviços registrou uma alta de 3,1% em relação ao mesmo período de 2023, com a economia criativa representando 3,11% desse crescimento.
No entanto, empreender não é uma jornada simples. O empreendedorismo exige lidar com riscos, especialmente diante da instabilidade da economia brasileira e da falta de experiência de muitos autistas em iniciar e gerenciar um negócio. Esse desafio é ainda maior considerando que 20% dos pequenos negócios fecham após o primeiro ano, conforme apontado pelo IBGE.
Desde a Reforma Trabalhista de 2017, que enfraqueceu as leis trabalhistas e aumentou o desemprego, o empreendedorismo passou a ser visto como uma solução para garantir renda. No entanto, essa alternativa ainda exige proteção social e apoio do Estado, especialmente para grupos vulneráveis, como os autistas.
Quais os benefícios práticos da economia criativa para autistas?
Os benefícios da economia criativa vão muito além do impacto nos indicadores econômicos de um país. Esse setor tem um forte papel social, promovendo bem-estar e inclusão – algo essencial para autistas que buscam oportunidades no mercado de trabalho.
Basta uma rápida busca no Instagram para encontrar autistas atuando em diversas áreas, como professores, psicólogos, advogados, terapeutas e arquitetos, utilizando as redes sociais para expor seus trabalhos e oferecer serviços criativos e inovadores. Muitos autistas se destacam por sua hiperfocalização e criatividade, habilidades valiosas para o setor.
Entretanto, mesmo autistas oralizados e com relativa autonomia ainda enfrentam dificuldades para administrar as demandas de um negócio próprio. Embora o SEBRAE ofereça suporte aos pequenos empreendedores, principalmente aos que atuam como Microempreendedores Individuais (MEI), ainda faltam incentivos específicos para autistas.
Seria essencial o desenvolvimento de políticas públicas que garantam:
- Acesso a linhas de crédito com juros reduzidos
- Capacitação voltada para empreendedores autistas
- Programas de incentivo ao empreendedorismo neurodivergente
Muitas das oportunidades disponíveis hoje não contemplam autistas, dificultando a inclusão dessa parcela da população no mercado de trabalho.
O trabalho vai além de um direito: ele é dignidade e autoestima. Para garantir uma sociedade mais inclusiva, o governo brasileiro precisa investir em políticas de fomento ao empreendedorismo autista. Afinal, a inclusão de autistas no mercado de trabalho não deve se limitar a espaços adaptados e terapias, mas sim à valorização de suas competências e à possibilidade de contribuir ativamente para a economia brasileira com sua inteligência e habilidades únicas.
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Nota do editor: Vale destacar que em muito veículos cita-se um dado que não existe: de que o Brasil tem 15% de autistas empregados — ou 85% de autistas desempregados —, segundo o IBGE. Porém, o IBGE não tem esses números relacionados a autistas no Brasil. Há um texto de 2019, da Época Negócios, que cita essa informação, porém não apresenta sem nenhum link para a fonte do IBGE. A reportagem da Revista Autismo entrou em contato com o IBGE e confirmou que esse número nunca existiu. A Revista Forbes publicou, em 2019, uma informação mundial sobre a empregabilidade de autistas com dados da ONU — Organização das Nações Unidas: estima-se que 20% dos autistas estavam empregados no mundo em 2019. Dados de alguns países também dão pistas sobre o assunto, como no texto “Autismo e o mercado de trabalho”, de Nathália Vasconcelos: “As estatísticas sobre empregabilidade e TEA mostram que cerca de 29% dos adultos autistas estão empregados no Reino Unido (Sparkes et al., 2022), enquanto os Estados Unidos e Australia apresentam a taxa de 38% dos autistas empregados (Australian Bureau of Statistics, 2018; Roux et al., 2017)“.