1 de dezembro de 2023

Tempo de Leitura: 3 minutos

Em 21 de outubro de 2023, participei junto com Francisco Paiva Jr., Marcos Petry e outras pessoas que atuam na inclusão de pessoas autistas no mercado de trabalho, da 1ª Conferência Municipal do espectro autista, realizada na Câmara Municipal de São Paulo. O evento foi organizado pelo vereador do município de São Paulo, Coronel Salles.  Aqui cabe lembrar que a diversidade, a equidade e a inclusão devem estar na pauta de todos os partidos políticos.  Fujam de partidos que não abordam essas pautas. Fica a dica! 

Queria destacar alguns pontos que mais me chamaram a atenção na mesa sobre Empregabilidade de Pessoas Autistas. Marcos Petry, uma das pessoas que muito nos inspira e traz sua vivência enquanto pessoa autista que busca maior qualidade de vida para as pessoas neurodivergentes no Brasil, trouxe algumas contribuições preciosas. Marcos relatou sua experiência em um processo seletivo para busca de emprego em uma Empresa. Ele comentou que a selecionadora que recebeu seu currículo explicou que seu perfil era excelente, com idiomas como inglês, alemão e sueco, mas que a vaga disponível era apenas para cumprir cotas, e assim, seu perfil era muito elevado para a vaga em questão. As empresas podem ter vagas para perfis em início de carreira, mas também devem contemplar vagas para pessoas com habilidades e experiência que possam trabalhar em posições de maior complexidade e liderança. 

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Francisco Paiva Jr. comentou que entende que um dos maiores desafios na inclusão é conscientizar as empresas sobre o potencial que as pessoas autistas possuem e como elas podem contribuir para a performance e para resultados das organizações. Paiva indicou ainda que o foco que devemos ter na contratação de pessoas neurodivergentes deve estar nas habilidades e no potencial de cada pessoa e não nas dificuldades de interação e comunicação.

Um ponto sobre mercado de trabalho que também nos chamou muito a atenção, foi a fala de Denise Rocha, sobre mães atípicas e suas dificuldades em permanecer no mercado de trabalho ou conseguir uma colocação profissional que permita conciliar trabalho e as necessidades de seus filhos autistas. Denise referiu que esse recorte de gênero é muito importante, pois na maioria das vezes, os cuidados necessários são realizados pelas mães e elas não conseguem o apoio necessário das empresas, seja flexibilizando horários, permitindo o home office, aceitando justificativas quando acompanhando terapias etc.  Aqui, cabe ressaltar que podemos pensar em projetos de geração de renda para mães atípicas que não conseguem uma colocação profissional que contemple suas necessidades.

Tanto Emanuel Santana quanto eu abordamos os benefícios que temos ao contratar as pessoas autistas. Falamos, sim, do talento das pessoas, mas reforçamos que, em primeiro lugar, as pessoas têm o direito de entrar no mercado de trabalho, fazerem uma carreira e permanecerem nas empresas em que se sintam bem! Para isso, necessitamos de empresas mais inclusivas, onde os processos seletivos sejam acessíveis às pessoas autistas e com  outras neurodivergências. O RH pode ser o principal aliado na inclusão, mas também pode ser o principal vilão, caso não crie processos seletivos acessíveis para todas as pessoas, independentemente de deficiência ou de outras condições. 

Também comentei que as empresas que têm programas de diversidade, equidade e inclusão, sem a contratação de pessoas autistas e com outras neurodivergências, têm programas limitados e incompletos de diversidade. Não me venham falar de ESG – do inglês: environmental, social and governance (ambiental, social e governança, em português) – se não olham para o social e se seus processos de contratação não têm acessibilidade. 

E, para finalizar estas rápidas reflexões, tivemos a participação de três torcidas organizadas de pessoas autistas: os Autistas Alvinegros, Autistas Tricolores (aqui meu coração bate mais forte, sou são paulino) e os Autistas Alviverdes. Todas as torcidas juntas e reforçando que o time da inclusão é um só. Nos estádios dos grandes times do estado de São Paulo e em alguns outros estados, estão sendo criadas salas sensoriais para pessoas autistas, o que é muito elogiável. Mas, que tal esses times também passarem a contratar trabalhadores autistas? 

Quem não contrata pessoas autistas e com outras neurodivergências está desperdiçando talentos!

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Psicólogo, especialista em terapia comportamental cognitiva em saúde mental, mestre em psicologia da saúde, com experiência na gestão de programas de diversidade e inclusão em empresas como Sodexo no Brasil. Há 4 anos, faz parte do grupo de trabalho sobre Direitos Humanos nas Empresas da rede brasileira do Pacto Global da ONU e é diretor geral da Specialisterne no Brasil, organização social de origem dinamarquesa presente em 21 países, que atua na formação e inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho.

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