8 de março de 2019

Tempo de Leitura: 3 minutos

Investir na educação de autistas adultos é investir na capacidade humana

No Brasil, sentimos uma grande lacuna na oferta de serviços educacionais e outras intervenções para adultos com TEA. Penso ser pelo fato de que ainda não conseguimos desconsiderar o autismo como sendo especificamente infantil, então não nos damos conta de que jovens e adultos continuam ao longo da vida necessitando de atenção. Se apenas ofertamos educação em período obrigatório, impedimos que pessoas adultas usufruam de atenção educativa.

É necessário e urgente que pensemos na ampliação do conceito de educação que contemple todas as etapas da vida do indivíduo, levando em conta que o autismo é de ordem crônica, e não se limita à infância.

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Ninguém é impassível às mudanças proporcionadas por uma educação adequada, que entenda especificidades, respeite estilos de aprendizagem, contemple habilidades e ofereça possibilidades.

Ao pensarmos em bom programa educacional para adultos, ter em mente a promoção de: habilidades de comunicação, sociais, emocionais, cognitivas e também as vocacionais — investirmos de forma positiva em áreas como atenção, memória e funções executivas.

Proporcionar flexibilidade na formação, pode fazer com que adultos autistas desenvolvam melhor o controle de situações, encontrem soluções para reduzir o estresse e a ansiedade, sejam capazes de melhor generalizar, desenvolver ou aumentar empatia, lidar com as emoções, ter mais auto-estima, entre outros.

Em relação a adaptações curriculares, o que é algo ainda difícil para educadores que lidam com pessoas autistas adultas, é preciso propor conteúdos com bastante estrutura e pistas visuais, respeitar o ritmo de aprendizagem, eleger prioridades, sequenciar, respeitar os gostos e a vontade do aluno quanto a conteúdos (pode ser que o aluno já tenha visto o conteúdo proposto repetidamente ou que este fuja aos seus centros de interesse, aí ele não se anima, ou até mesmo se nega a cumprir as atividades) e, por fim, é imprescindível que o currículo proposto seja adequado ao nível de funcionamento da pessoa com TEA. Educadores, busquem aprimorar e obter formação para o atendimento educacional de adultos, e não pensem que conhecimentos relativos ao desenvolvimento infantil sejam adequados para atender aos de idade mais avançada.

Também vemos ser importante perceber que muitos alunos com autismo podem estar mais aptos para lidar com questões de aprendizagem aos 20 anos, do que estavam com 10; sendo que ao chegarem à idade adulta, muitos deles podem ter aprendido a lidar melhor com certos comportamentos, a gerir conflitos relativos ao estresse e ansiedade, a lidar melhor com as dificuldades relativas aos interesses restritos.

Na vida e na educação, é essencial termos objetivos. Para educar adultos com TEA, os objetivos devem ser voltados às competências, identificar os interesses pessoais e os vocacionais, priorizar habilidades e aptidões para orientar os alunos em formações acadêmicas e profissionais, visando também a sua empregabilidade.

Autistas apresentam potenciais que por vezes nem sequer imaginamos, isso se dá por colocarmos mais foco às limitações do que às possibilidades, a nossa visão limitada aliada por vezes à nossa inércia, faz com que desprezemos imensas capacidades.

Arregacemos as mangas e lutemos para que todos possam ter acesso à educação ao longo da vida e ao mercado de trabalho, não apenas os considerados “grau leve” ou os que usufruem de privilégios econômicos. Para sermos uma sociedade mais justa, a educação deve realmente ser direito de todos.

Que o trabalho e contribuição dos pais sejam valorizados e reconhecidos, abrindo espaço para parceria entre educadores e pais. Antes de planejar programas, adaptar e promover ações, consultar os pais ou outros membros da família que sejam importantes para o desenvolvimento do adulto com TEA é primordial.

Investir na educação de pessoas adultas com autismo é investir na capacidade humana de se desenvolver ao longo da vida; todos podem aprender e seguir no aprendizado, adquirir novas habilidades e se tornar seres humanos mais completos, mais produtivos e mais felizes!

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Atualmente na vice-presidência da onda-autismo, a professora Claudia Moraes é pedagoga, especialista em educação na perspectiva do ensino estruturado e é mestre em educação com especialização para formação de professores.

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