24 de julho de 2016

Tempo de Leitura: 4 minutos

Quando Theo, o único filho de Andréa Werner, foi diagnosticado com autismo aos dois anos de idade, em 2010, o mundo da jornalista e escritora pareceu ter virado de cabeça para baixo. Ao ouvir do médico que o menino tinha transtorno global do desenvolvimento, a sensação experimentada por ela era semelhante à de um forte soco no estômago.

Completamente sem chão, ela só queria saber se ele ficaria curado, se ficaria bem, se iria falar e ser independente. Andréa enfrentava, naquele momento, o mesmo sentimento de impotência e desconhecimento vivido por milhares de mães ao serem informadas que seus filhos têm autismo. Daquele dia até o momento em que decidiu mergulhar fundo no assunto para ajudá-lo de todas as formas possíveis, ela passou por diversas etapas, do quase luto até a descoberta de que existe vida, sim, apesar do autismo.

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Capa do livro "Lagarta via pupa".

Capa do livro “Lagarta via pupa”.

A última delas resultou no livro “Lagarta Vira Pupa – A vida e os aprendizados ao lado de um lindo garotinho autista“, lançado neste mês (julho de 2016).“O livro vem para acolher e apoiar principalmente os pais, e isso vai desde a validação de todos os sentimentos vividos no pós-diagnóstico — a negação, a barganha, a aceitação — até uma palavra de conforto para os dias difíceis, terminando em dicas práticas”, explica a autora, ressaltando que sua proposta é de que a obra também seja útil para familiares e profissionais que trabalham com crianças com deficiências ou simplesmente para pessoas que queiram aprender a lidar melhor com a diversidade e criar filhos mais abertos a ela.

O livro é, na verdade, o resultado de um projeto maior sobre o qual Andréa se debruçou em 2012, dois anos após a descoberta do autismo de Theo: o blog que tem o mesmo nome do livro: Largarta Vira Pura. Para surpresa da autora, o que inicialmente tinha como objetivo ser um canal de desabafo e troca de experiências entre pais que enfrentam o mesmo problema, o blog cresceu e caminhou rapidamente. Hoje é o maior do gênero sobre autismo e deficiências no Brasil e considerado por muitos especialistas uma referência. O blog Lagarta Vira Pupa tem 100 mil usuários, 200 mil visualizações de páginas por mês, 45 mil fãs no facebook, 11 mil seguidores no Instagram e 2,5 mil inscritos no Youtube. E foram todos esses seguidores que cobraram de Andréa Werner uma ideia que ela, em seu íntimo, já vinha amadurecendo aos poucos: o desejo de escrever um livro. Como a proposta da jornalista era fazer um projeto bonito, com papel de qualidade, colorido e com ilustrações que fizessem a diferença, ela recorreu a uma prática pouco comum aos autores que lançam livro no Brasil, a do financiamento coletivo (crowdfunding).

Lançamento indepentende

“As propostas que recebi de algumas editoras apontavam para algo mais simples, então decidi bancar o livro de forma independente. Foi um frio na barriga por não saber como a iniciativa seria recebida”, conta. A resposta veio imediatamente. Uma semana após a campanha ter sido lançada, arrecadou R$ 30 mil quando o prazo proposto pelo site que abraçou o projeto era de 60 dias.

“Transformei o crowdfunding em uma “pré-venda com benefícios”, em que as pessoas podiam adquirir só o livro ou outros pacotes (o livro com um marcador com a patinha da Lola, nossa Golden Retriever, e a mãozinha do Theo”, explica. “Até hoje tem gente chorando porque ficou sem o desenho do Theo ou o marcador de livro” diz, feliz com o resultado. O livro Lagarta Vira Pupa… levou oito meses para ficar pronto e reúne alguns textos publicados no blog e outros inéditos. As ilustrações são assinadas por Kelly Vaneli, diretora de arte da empresa de entretenimento Time For Fun e responsável pelas instalações no Brasil de espetáculos como o Cirque du Soleil e musicais como Wicked.

Andréa Werner diz ter optado por mesclar textos publicados e inéditos por considerar que nem todos os seguidores a acompanham desde o início e considerava fundamental ter no livro textos escritos nos primeiros tempos de vida do blog. Para isso, a autora precisou editá-los para um formato mais atemporal e dar linearidade à obra. Ela afirma que um de seus objetivos é transformá-lo numa referência para pais que têm filhos autistas ou com qualquer deficiência, já que os obstáculos e os caminhos para enfrentarem os problemas são parecidos. “A vida não para, a gente tem que viver e dá, sim, para ser feliz após o diagnóstico de autismo. A criança está ali, viva, precisa viver. Nunca deixei de fazer nada com o Theo pelo fato dele ser autista”, defende ela.

Após seis anos pesquisando e aprendendo sobre autismo, Andréa diz ter constatado que algumas mães entendem mais sobre o transtorno do que muitos médicos. “Por isso decidi fazer essa ponte para novos pais que chegam no nosso mundo. O diagnóstico no Brasil ainda é tardio, por volta dos cinco anos, e a intervenção precoce é muito importante porque aumenta muito a chance da criança ser mais independente no futuro”, alerta a escritora, ressaltando que ainda existe muito desconhecimento sobre os sinais do autismo por parte dos pediatras.

Outra mensagem positiva que a autora pretende passar com a obra é o aprendizado e a transformação que viveu a partir da descoberta do diagnóstico do filho. “Passamos a ver o mundo de outra forma, a dar valor a coisas que realmente importam. Os autistas têm o dom de ver graça em coisas que as pessoas ditas “normais” desprezam, como as árvores balançando ao vento ou o efeito da luz do sol passando na poeira”.

Além da forma escolhida para concretizar a publicação do livro, Andréa também inova no que diz respeito à venda. A primeira tiragem de 2 mil exemplares será comercializada no próprio blog. “A forma como o projeto foi recebido, já vendendo quase 600 unidades (de 2 mil da primeira edição) na pré-venda, me deu uma noção real do impacto. Minha vida está ali no livro, é um projeto super pessoal. Porisso mesmo, resolvi vender em meu próprio site”, argumenta.

O site para comprar o livro é loja.lagartavirapupa.com.br e o preço de lançamento é R$ 59,90.

MAIS SOBRE A AUTORA

Andréa Werner é mineira de Belo Horizonte, tem 40 anos, é jornalista formada pela PUC Minas e escritora. Trabalhou na multinacional Unilever. Só deixou o mundo das multinacionais após o diagnóstico do filho. Atualmente mora em Estocolmo, na Suécia, e está lançando seu primeiro livro no Brasil de forma independente.

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