18 de junho de 2021

Tempo de Leitura: 4 minutos

por Selma Sueli Silva e Sophia Mendonça,
especial para a Revista Autismo e o Canal Autismo

Quando o autismo entrou na sua vida? Na maioria das vezes foi a partir de então que ele começou a existir para as pessoas. Entretanto, em 1906, o psiquiatra Plouller introduziu o termo em estudos da demência, em 1911 o termo “autismo” foi empregado pela primeira vez pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler e, em 1943, o autismo foi descrito pela primeira vez como um distúrbio, pelo médico Leo Kanner. 

O autismo aparece no DSM-I (sigla em inglês para a primeira versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais), datado de 1952, como um sintoma da “Reação Esquizofrênica, tipo infantil”, categoria na qual são classificadas as reações psicóticas em crianças com manifestações autísticas (APA, 1952).

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Mais tarde, em 1980, referindo-se a uma categoria diagnóstica, ou melhor, uma subcategoria dos Transtornos do Desenvolvimento, o autismo foi descrito como um transtorno do desenvolvimento e, dessa forma, incorporado ao Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-III, sendo adicionado à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde, em 1993. Já a síndrome de Asperger foi identificada pela primeira vez, em 1944 e incorporada pela Associação Americana de Psiquiatria, em 1993.  Em 2013, a quinta edição do manual (DSM-5) criou a denominação Transtorno do Espectro Autista (TEA), que englobou a síndrome de Asperger e o autismo em um mesmo “guarda-chuva” de diagnósticos (o que acontecerá também com a nova versão da classificação de doenças, a CID-11, que passa a valer no início de 2022).

Portanto, é tudo muito novo, do ponto de vista da cronologia histórica. É preciso conhecer para entender melhor e acabar com o preconceito e o capacitismo. 

No ano passado, o Plenário do Senado brasileiro decidiu, por unanimidade, que o dia 18 de junho seria destinado à comemoração do Dia Nacional do Orgulho Autista, seguindo a mesma data do Dia Mundial do Orgulho Autista, criado em 2005, numa iniciativa do grupo britânico Aspies for Freedom

Bastou, então, um “cumpra-se” e o orgulho autista estava garantido para toda a sociedade? Não é bem assim. O enfrentamento a comportamentos e preconceitos estruturais precisam, sim, do respaldo da lei, mas garantir a transformação social positiva é mais que isso. É necessário ética.

Num país em que o conceito de ética anda desmoralizado e banalizado, é bom que retomemos sua essência. Ser ético é saber conviver, ter bom senso e respeito ao próximo, à diversidade. É entender que é dela – da diversidade humana – que nasce a criatividade e todas as possibilidades de evolução. Não há como aprender e, consequentemente, crescer se todos forem rigorosamente iguais,  como cópias de si mesmos.

Ter ética não é cercar-se de um conjunto de regras prontas, engessadas. A ética nasce do conflito que nos leva a questionamentos e descobertas, não do confronto que acirra pontos de vistas passionais e, em sua maioria, obtusos. Mais que nunca é necessário aprender e exercitar o diálogo, o debate. A ética nasce do debate, das reflexões que datas como o Dia do Orgulho Autista nos convidam a fazer. Precisamos debater sobre o novo, para construirmos o melhor caminho. A ética é, pois, a arte da convivência.

Neurodiversidade

O termo neurodiversidade foi criado em 1998 pela socióloga Judy Singer e junto ao jornalista Harvey Blume foram responsáveis por popularizar o conceito de variações naturais no cérebro humano de cada indivíduo em relação à sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e outras funções cognitivas.

Para a neurodiversidade não há um “normal” neurológico a que todos devam aspirar e corresponder, e sim variações tão múltiplas e complexas quanto os genes, ecossistemas e espécies existentes na natureza. Esse é um motivo de orgulho, não de vergonha ou sofrimento. Hoje, ativistas pela neurodiversidade vão além, e defendem que a neurodiversidade deve ser considerada uma categoria social tanto quanto etnia, gênero, classe socioeconômica etc. E mais: em um contexto profissional, pode ser compreendida como vantagem competitiva.

Um outro viés

Muitas famílias, no entanto, consideram que o movimento pela neurodiversidade ignora as pessoas que lutam com autismo severo. É uma discussão complexa, com argumentos válidos em ambos os lados. Nesta hora, precisamos ter acesso a informações confiáveis e utilizar o avanço tecnológico a nosso favor para fugir das tão nocivas fake news.  Estaremos, desse modo, preparados para um debate que considere todo o espectro. 

Uma pessoa pode ser autista mas, definitivamente, ela não é o autismo. É preciso entender que nem todos se comunicam da mesma forma para que haja a reivindicação de novas ferramentas de comunicação. Só assim, vamos defender a inclusão legítima de todas as formas humanas de ser e de se expressar. Exemplo disso é o pernambucano Pedro de Lucena, 22 anos, autista não oralizado que trilhou o seu próprio caminho e se tornou um escritor com o auxílio da comunicação alternativa.

Vozes do orgulho autista. Ou não.18 de junho - Dia do Orgulho Autista - Vozes do Orgulho Autistas. Ou não - Revista Autismo / Canal Autismo

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Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

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