26 de março de 2020

Tempo de Leitura: 3 minutos

Novos números do CDC mostram que os diagnósticos de autismo continuam crescendo, abrangendo todas as classes, raças e etnias

Francisco Paiva Junior,
editor-chefe da Revista Autismo

Novos números estatísticos publicados hoje (26.mar.2020) pelo CDC (Centro de Controle de Doenças e Prevenção do governo dos EUA) mostram uma prevalência de 1 autista para cada 54 crianças de 8 anos, em 11 estados, de acordo com pesquisa feita frequentemente e atualizada a cada dois anos no país. Os dados divulgados são referentes a 2016, sempre de 4 anos atrás. O número de diagnósticos de meninos continua 4 vezes maior que o de meninas.

Gráfico de prevalência de autismo nos EUA, com dados bianuais do CDC - CDC (Centro de Controle de Doenças e Prevenção do governo norte-americano)

O aumento representa um acréscimo de 10% no número anterior, de 2014, que era de 1 para 59. O maior destaque do estudo, porém, foi o autismo estar presente em todos os grupos raciais, étnicos e socioeconômicos. “Diferença na prevalência de autismo entre grupos humanos não é biológica, mas social. Autismo não discrimina”, comentou o neurocientista brasileiro Alysson Muotri, professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, Califórnia (Estados Unidos), referindo-se aos diagnósticos acontecerem em quem tem melhores condições financeiras. Ou seja, o autismo está lá em todas as classes, mas só tem o laudo, sabe que é autista e tem tratamento quem tem acesso a melhores condições sociais — os demais continuam sem diagnóstico, sem constar nas estatísticas, como é o caso do Brasil (com apenas um estudo-piloto) e a totalidade do continente africano sem nenhum estudo, por exemplo. Veja o mapa online de prevalência feito pela Spectrum News (aqui) e leia nossa reportagem (capa da edição número 4), de março/2019, “Quantos autistas há no Brasil“.

Publicidade
ExpoTEA

Pela primeira vez, os números do CDC mostram uma prevalência quase idêntica em crianças negras e brancas. Pesquisadores já sinalizavam uma suspeita de que as diferenças vistas anteriormente refletiam um viés contra grupos não brancos, ao invés de uma real diferença de prevalência entre eles. Contudo, nos Estados Unidos, a prevalência em crianças de origem hispânica ainda fica abaixo dos números de outros grupos étnicos.

Um relatório do CDC que faz o acompanhamento de crianças de quatro anos de idade sugere que estão acontecendo mais diagnósticos precoces de 2014 para 2016, sugerindo que cuidadores e profissionais de saúde estão detectando e suspeitando de autismo mais cedo. Se a tendência continuar, dizem os especialistas, a prevalência entre as crianças de 8 anos continuará a aumentar.

CDC, EUA — Centers for Disease Control and Prevention — nos Estados Unidos — Revista Autismo
CDC (Centro de Controle de Doenças e Prevenção do governo dos EUA)

Aumento

Grande parte do aumento da prevalência geral pode estar relacionado à crescente conscientização da sociedade e também entre os profissionais de saúde sobre a necessidade de triagem e tratamento do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Mas, especialistas norte-americanos observam alguma contribuição da maior inclusão de crianças de diferentes grupos raciais e étnicos aos diagnósticos e tratamentos — pelo menos por lá.

A crescente prevalência em crianças indica que adultos autistas também precisam de mais consideração, diz Catherine Rice, diretora do Emory Autism Center, em Atlanta (Geórgia). Segundo as novas estimativas, cerca de 75 mil adolescentes autistas se tornarão adultos a cada ano, disse em nota à imprensa, confirmando que o autismo é uma “importante condição de saúde pública”.

Estas estimativas de prevalência são baseadas em registros educacionais e de saúde coletados nos Estados Unidos, em 11 estados, pela Rede de Monitoramento de Autismo e Deficiências do Desenvolvimento do CDC. O estudo completo do CDC (em inglês) pode ser visto em: https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/69/ss/ss6904a1.htm?s_cid=ss6904a1_w.

[Atualizado em 27.mar.2020, 8h33] Acrescentadas mais informações e análises de especialistas dos Estados Unidos.

COMPARTILHAR:

Editor-chefe da Revista Autismo, jornalista, empreendedor.

Como a comunidade do autismo reagiu ao coronavírus

Autocrítica extrema no autismo é tema de podcast

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)