18 de junho de 2020

Tempo de Leitura: 2 minutos

Antes de especular sobre como será o novo “normal”, preciso admitir que nunca fui fã de normal algum. Quem me conhece, mesmo que pouco e em algum momento da minha vida, sabe disso. 

Como analista do comportamento, psicóloga comportamental, isso e aquilo, já ouvi tudo que é desaforo. Normalmente não dos meus clientes, amigos, famílias, alunos, etc. Já ouvi, inúmeras vezes, que queremos “normalizar” as pessoas com autismo. Capacitar até. Então vou esclarecendo: não, nunca pretendi normalizar nada.

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“Mas Meca, se você muda comportamento, como diz que não se importa com o “normal”?

Olha só, vou contar uma coisa difícil de ouvir: se você não muda comportamento, você não muda nada. Ou faz pior, muda comportamento sem saber ou assumir responsabilidade.

A questão não é mudar. É mudar em que direção, em benefício de que e de quem. Essa discussão nos leva a valores, à ética. Para alinhar a discussão sem deixar muita margem para confusão, vou assumir uma moralidade darwinista e entender que a sobrevivência é o valor central. Ou “meta-valor”, como costumávamos dizer na faculdade, nas discussões teóricas sobre o behaviorismo. Tudo que se atrela a esse meta-valor é, portanto, desejável. Aí entram coisas como “qualidade de vida”, “felicidade”, “satisfação pessoal”, “prazer”, “conforto” e outras tantas abstrações. Mas, também e principalmente, comida no prato, teto, saúde, higiene, educação, etc. Nesse sentido, o “normal” é determinado pelas práticas individuais e sociais que aumentam nossas chances de alcançar essas metas. Dessa forma, sigo entendendo que as práticas normais são aquelas que aumentam as chances de garantir isso. 

Não há, portanto, práticas intrinsecamente boas ou ruins. Normais ou não. 

Mas, nos dias que estão por vir, após a pandemia de Covid-19, teremos novas preocupações, e novas práticas vão ganhar status de normal. Pensar nisso hoje, em plena pandemia, não é apenas uma forma de passar o tempo de isolamento, mas também uma medida provavelmente útil para nos garantir um futuro melhor. 

E você, autista, terá que avaliar como irá se ajustar a essas novas preocupações. Que estratégias vai desenvolver e adotar para se manter saudável, produtivo, engajado em “o que quer que seja” que te traga felicidade. Aqui falo com você, autista e leitor desta coluna, ou com você, profissional que está coçando a cabeça a essa altura, ou com você, pai, mãe, irmão, amigo do autista que não lê essa coluna. A questão é relevante para todos, mas nos afeta de formas diferentes.

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Psicóloga, com mestrado em Análise Aplicada do Comportamento pela Northeastern University (EUA), diretora do Grupo Método.

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