1 de setembro de 2020

Tempo de Leitura: 2 minutos

Até pouco tempo atrás eu estava com uma vida consideravelmente estabilizada, emprego, amigos, afazeres em dia etc. Percebi com o tempo que a estabilidade não existe realmente. A todo momento existem grandes mudanças que podem transformar sua vida, tanto para o bem quanto para o mal, estamos sempre à mercê destas mudanças e temos que nos adaptar e nos reinventar sempre que elas aparecem. Eu chamo esta adaptação a momentos de crise de “processo fênix”.

Minhas aulas foram canceladas, meus alunos pediram para sair do curso, parei de receber, fiquei em casa, fui perdendo a chance de trabalhar e pagar contas, perdi a presença do meu filho, que tanto me motivava a me manter firme, e mais uma vez minha mente foi se enfraquecendo. Me considerava um peso.

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Uma tarde, ao me deitar, senti que eu havia perdido a luta, meu corpo estava frio, eu via o mundo em cinza, minha mente só me mostrava imagens sombrias, me dando sempre idéias mirabolantes para acabar com minha vida. Eu estava mal, não podia perder o controle, então fiz o que podia no momento: desliguei o jornal que só repetia que estávamos perdidos e que tudo estava quebrando  — economia, educação, saúde — no noticiário e também se quebrando dentro de mim.

Quando me levantei, enfrentando mais um dia, fui avisar as pessoas que não poderia fazer a live que eu havia prometido, pois não estava bem. Ao ligar a câmera, dois inscritos do canal entraram, depois oito, depois vinte. Quando vi havia 40 pessoas me aconselhando e me ajudando — elas estavam tão longe, mas tão perto. Meu coração se aqueceu, eu chorei, chorei muito. Uma das pessoas que me assistiam avisou minha psicóloga que eu estava numa crise, ao vivo no Youtube. Ela me ligou e me confortou. Logo depois, meu pai, que mora a 4 horas de São Paulo, me ligou, e eu, que estava me sentindo tão sozinho, do nada estava cercado de amor e atenção.

No dia seguinte, falei com minha psicóloga, a tarde já falava com meu psiquiatra. Voltei a tomar antidepressivo e até remédio para dormir, mas sei que o que mais me ajudou foram as pessoas que me ouviram em uma live no youtube, pessoas que se preocuparam, pessoas que avisaram minha psicóloga, pessoas que avisaram meu pai, pessoas que estavam a milhares de quilômetros e simplesmente me disseram: “vai ficar tudo bem”. 

E no outro dia lá estava eu novamente, no meu conhecido “processo fênix”, em que mais uma vez eu havia virado pó e após um doloroso processo eu renascia, mais forte e consciente de todos meus problemas e limitações. Assim consegui forças para continuar lidando com a depressão, acreditando que dias melhores sempre virão, só precisamos nos lembrar que nunca estamos sós, e pedir ajuda é sempre o melhor caminho para vencer qualquer batalha. 

Leonard Ribeiro Jacinto, o Leo Akira, é youtuber, tem diagnóstico de autismo e é professor de parkour em São Paulo (SP).

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