12 de dezembro de 2021

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Na semana passada, foram divulgados os números atualizados da incidência do TEA em crianças de até oito anos de idade nos Estados Unidos pelo CDC, que é o órgão responsável por esse controle no país.

Os EUA já fazem, há bastante tempo, uma apuração criteriosa desses dados, fornecendo um acompanhamento de qualidade acerca dessas estatísticas para uma melhor compreensão do quantitativo dessa população.

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Para modo de exemplo, se olharmos para os dados reportados no ano de 2007, tínhamos uma incidência de 1 criança autista para cada 150 não-autistas naquele país. Esses números foram sendo atualizados em média a cada dois anos, e a incidência foi aumentando gradativamente desde então, passando por 1 a cada 110 no ano de 2009, 1 a cada 69 em 2016, 1 a cada 54 em 2020, até chegar aos dados de 2021, que mostram 1 a cada 44 crianças até oito anos de idade dentro do espectro do autismo.

No Brasil, não temos números oficiais em relação à incidência do transtorno. Oficialmente, o que temos são estimativas defasadas, em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) pressupõe que existam 2 milhões de pessoas autistas em nosso território. Esse número, por si só, já seria bastante expressivo, porém, os indicativos, se tirarmos por base os dados de países que fazem um controle mais adequado, são de que existe um número bem mais elevado do que esse estimado pela OMS.

Se fizermos uma estimativa livre, se valendo dos dados americanos e considerando que não haja um determinismo geográfico em relação ao TEA, num país como o nosso com mais de 200 milhões de habitantes, teríamos mais de 4,5 milhões de crianças com menos de oito anos de idade que estão no espectro autista.

Com esse aumento tão evidente desses números, é comum que apareçam dúvidas em relação ao que se pode atribuir a tal elevação através dos anos. Tal dúvida em si não traz nenhum malefício à causa, contudo, os problemas começam quando a desinformação fala mais alto do que a realidade.

E aí surgem falsas percepções de que estamos tendo uma “epidemia de autismo”, e não é incomum ouvir certas expressões como “agora tudo é autismo” ou “autismo está na moda”, afirmações essas que, além de não serem condizentes com a verdade, acabam por desqualificar muitas vezes o trabalho de profissionais sérios e também a luta de muitas pessoas e de seus familiares por uma resposta diante de uma condição que, quando não trabalhada e tratada, lhes traz muita aflição.

Para que todos entendam o contexto correto, fique claro que, apesar do aumento dos casos, ainda é mais comum, pelo menos em nosso país, não conseguir tal diagnóstico do que o contrário. E, em muitos casos, a pessoa é de fato uma pessoa com TEA, mas não tem sua condição oficializada seja por falta de acesso à saúde, por questões sociais, econômicas, por desconhecimento ou negação própria ou por parte da família, como também por falsos preceitos, como os das expressões supracitadas, que acabam por dificultar que um profissional sem qualificação necessária realize uma avaliação correta.

Ressaltando, autismo não está na moda. Uma investigação bem feita não considera dados além dos pertinentes ao que diz respeito ao que aquela pessoa que está sendo avaliada apresenta. Questões genéticas e hereditárias são importantes, todavia, não interessa à investigação clínica se estão falando muito ou pouco de certo assunto na mídia ou nas redes sociais. A pessoa estará dentro do Espectro Autista ou não, dependendo de resultados da sua avaliação propriamente dita, e não do que números externos possam trazer.

Também não temos uma epidemia. Aqui já começamos com um erro de definição, já que epidemia se refere a doenças, geralmente infecciosas, e Autismo nem é doença, tão pouco é infeccioso a ponto de ser transmissível nesses moldes. Mesmo que se pense no sentido figurado, o aumento dos números não se dá simplesmente por fatores relacionados ao simples aumento de pessoas nessa condição.

Na realidade, essa adição se deve a vários agentes como o fato de existir cada vez mais profissionais capacitados, critérios diagnósticos mais bem definidos, melhoria no acesso a esses profissionais, entendimento do Transtorno como um espectro englobando outras condições que anteriormente não eram definidas como Autismo, entre outros fatores que nada têm a ver com epidemia.

Para finalizar, acho importante ressaltar que espero realmente que um dia o autismo esteja sim na moda. Que seja moda ter o diagnóstico com facilidade quando for o caso, que seja usual entender dessa condição para que a nossa existência, enquanto pessoas autistas, não seja dificultada por questões que nada têm a ver com o autismo como discriminação e preconceitos.

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Presidente da ONDA-Autismo e membro do Conselho de Autistas; ativista; administrador da página @autiesincero no Instagram, servidor público federal, palestrante e escritor.

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