28 de junho de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Funções executivas são habilidades cognitivas. Estão incorporados nessa categoria o controle inibitório, pensamento rígido, organização, planejamento, controle da execução, foco, memória de trabalho etc. Mas, você sabe como pode ser estressante para uma pessoa autista lidar com o funcionamento aquém do esperado de suas funções executivas?

Acordo: “Hummmm, adoro escurinho… puxa vou ter que sair do escurinho? Nossa… a atividade das crianças, como eu vou passar pra eles hoje? Esqueci do upload daquele arquivo… Nossa, e da aula da faculdade.” 

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Bate o desespero, mas me auto-regulo: “Comece com o primeiro passo… café!” 

Sim, eu abro os olhos e acontece tudo isso junto mesmo! Ali, na hora! 

Café! Adoro ficar sentindo o gosto das coisas, num momento “nada”. De repente, me arrancaram do “nada”. Tento preparar as coisas. 

“Mãe, posso passar requeijão?”

“Requeijão? Claro!” 

Pego o requeijão: “Quantos pães eu já fiz mesmo?” Olho um por um novamente pra ver qual estava pronto. 

“Mãe, você assistiu ao filme do King Kong com o Godzilla?”

Eu escutei, mas não entendi uma palavra: “Qual pão já está cortado mesmo?” Olho novamente um por um:  “Leite, quem quer leite?”

“Mãe, posso jogar videogame primeiro?” 

“Videogame? Ok, joga primeiro.”

“Quem queria leite mesmo? Por que eu estou ficando com raiva do leite?”

“Pê ajuda a mãe, dá uma força pros seus irmãos enquanto eu preparo as aulas antes que a Nana acorde.” Entre a luta e a fuga, preferi fugir!

Vou imprimir as atividades, mas…: “Nossa, agora tem agenda… e se eu clicar aqui? Tudo da mesma cor? Deveriam ser cores diferentes para dar a noção de categorias, um autista nunca faria desse jeito… Que sistema idiota! Puxa, eu poderia transcrever minhas aulas…” Salto de uma atividade para outra e começo a transcrever.  

Após muitas tentativas: “Como é que eu vou transcrever isso tudo se a cada dez palavras eu esqueço cinco?”

Vou fazer pão:  “Quatro ovos, três xícaras de farinha…”

“Mãe, o Pê não quer me emprestar a espada, ele está fazendo chantagem!”

“Será que vocês podem me deixar fazer o pão em paz?!” 

Até o vizinho escutou ― vergonha alheia! “Quantas xícaras de farinha eu já coloquei mesmo?”

Assim meu dia vai, ou não vai, empaca. Também desempaca. Às vezes isso faz eu me  perguntar se consigo ser competente, se fiz escolhas certas, se tudo vai dar realmente certo. Às vezes me deprimo, noutras, lembro que amanhã o sol estará de pé e terei uma nova chance. 

O desafio é constante e desgasta, mas uma coisa eu sei: autista é fogo, a gente raramente desiste! Errou? Tenta de novo!

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Autista, analista de sistemas e ex-integrante do podcast Introvertendo.

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