1 de setembro de 2020

Tempo de Leitura: 2 minutos

O pessoal envolvido com a comunidade autista – seja no nível pessoal ou profissional – ficou, no mínimo, sensibilizado com o que foi contado pela autista Leticia em suas redes sociais (@AspieAventuras). O caso foi também documentado pelo Jornal do Grande ABC (veja link na versão online) e causou indignação entre militantes e simpatizantes de todo tipo de causa relacionada à proteção de direitos humanos.

Segundo Leticia, ela buscou acolhimento em um Centro de Atenção Psicossocial  (i.e. CAPS) que havia frequentado anteriormente. Ao ser avaliada pela equipe local, considerando também o histórico de seu prontuário, foi determinado que ela apresentava elevado grau de risco. Com isso, foi medicada, contida e mantida contra sua vontade nas dependências do CAPS por cerca de 24 horas até que, com enorme mobilização da comunidade, foi liberada.   

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A indignação é não apenas justificável e compreensível, mas necessária. Pois ao menos em tese pode fomentar mudança. E, certamente, produziu a mobilização que terminou por abreviar seu sofrimento naquele dia. Mas escute: indignação, apenas, está longe de ser suficiente para qualquer ganho de fato. Ideologia, apenas, traz paz aos pensadores…

Veja: os CAPS são equipamentos da Saúde Pública que procuram oferecer assistência psicossocial à população. E são extremamente úteis! Antes deles existirem, saúde mental era privilégio de uma parcela bem pequena da população. A proposta CAPS, de um atendimento de portas abertas, contrasta de modo gritante com o que foi protagonizado por Leticia.  E por que isso aconteceu?

É difícil pensar que os profissionais envolvidos nesse incidente tenham sido motivados apenas por preconceito e intolerância. É muito provável que eles tenham tido a melhor das intenções. Que tenham, de fato, acreditado estar fazendo o bem. Por mais abusivo e desrespeitoso que tudo possa parecer, é provável que as decisões tomadas tenham sido, honestamente, as melhores que aquele grupo de pessoas foi capaz de tomar. Em outras palavras: ignorância, não apenas intolerância, gerou essa situação de deliberada violação aos direitos da Letícia. Leia-se como: “Não sei o que fazer com você, não estou entendendo o seu comportamento, não me sinto bem vendo e ouvindo o que estou vendo e ouvindo. Tenho medo do que possa acontecer. Por isso preciso que você pare.” 

Um pouco de conhecimento sobre o comportamento humano, um pouco de fluência no manejo de uma situação inesperada poderiam ter poupado a Letícia disso. Poupado todos nós da tristeza de perceber o quão pouco caminhamos. 

Menos discurso, mais preparo pode nos levar bem longe. É só.

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Psicóloga, com mestrado em Análise Aplicada do Comportamento pela Northeastern University (EUA), diretora do Grupo Método.

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