21 de fevereiro de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos

Por Paula Frade

Conselho de Profissionais da ONDA-Autismo; Moderadora Projeto TEAcolher; Pedagoga; Mestra em Distúrbios do Desenvolvimento. Mentora de mães atípicas 

Grande parte das pessoas escolhe sua profissão ainda na adolescência. Dedica-se, incessantemente, para ingressar em uma universidade de excelência para que lhe dê uma boa formação técnica para a carreira escolhida.

Não é raro, após a graduação, a pessoa já pensar em ingressar na pós-graduação: latu sensu ou stricto sensu (mestrado e doutorado), além dos cursos de curta duração. Sua bagagem teórica é motivo de orgulho, dedicação e empenho. As pessoas que acompanham a trajetória desse profissional se orgulham em ver seu crescimento.

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Ela está inserida em um campo extremamente louvável e enriquecedor para sua atuação profissional. Sabe aplicar as técnicas mais eficazes que ciência traz como benéfico para o paciente, o que é ótimo, uma vez que queremos ver a evolução de todos aqueles que passam por nós. Contudo, isso ainda não é tudo. Isso mesmo que eu disse.

A grande parte das academias e grandes centros de estudos estão focados quase que totalmente somente na formação técnica, deixando de lado algo não menos importante: o acolhimento necessário para essas famílias.

Pare e reflita: você sabe acolher essas famílias quando chegam ao seu consultório? Provavelmente sua resposta seja sim. Mas o que eu tenho observado ao longo dos anos, inserida na comunidade do autismo, é que existem controvérsias.

Diariamente, observamos consultórios cheios em busca do tratamento mais eficaz para a pessoa que necessita. A agenda, muitas vezes superlotada e a demanda excessiva de trabalho, só deixa o profissional olhar o paciente, quando precisamos olhar o todo. Para isso, é importante que dê um passo para trás e observe como tem sido a sua jornada profissional.

Não podemos esquecer que, em grande parte dos casos, as famílias buscam insensatamente o melhor para seu filho, mas que, muitas vezes, estão destroçadas e ainda assimilando o diagnóstico que receberam. Afinal, cada um tempo seu tempo, cada um sabe o que sente e vive dentro e fora de casa.

Eu sei que a academia não nos ensina a acolhermos. Como eu já disse, o objetivo central está em qualificar o profissional para que seja assertivo em sua conduta. Digo isso, uma vez que tive o privilégio de frequentar as melhores universidades do país e fazer cursos internacionais com as maiores autoridades da área, mas em nenhum momento, houve uma pauta sobre essa questão.

Mais uma vez, eu reforço o quão a qualificação profissional de excelência é importante, porém ela é o meio e não o fim. Esta concepção se tornou extremamente relevante para mim quando me tornei mãe e comecei a observar questões que antes não faziam tanto sentido.

A primeira vez que eu e meu marido levamos minha filha com 7 dias de vida à pediatra, a qual muito recomendada pela família e com vasta experiência, foi uma experiência extremamente difícil e de muito aprendizado para nós. Relatei a ela minha dificuldade em amamentar (algo natural) e o quanto me sentia esgotada. Lembro que ela olhou para nós e disse: “você tem que amamentar de qualquer forma”. Vocês têm estudo? Estudaram pelo menos o Ensino Médio? Então, acredito que saibam que é importante e tem que se virar para dar certo. Na época, eu já tinha concluído o mestrado e meu marido, o doutorado. Isso não faz de nós melhor ou pior do que outros. Mas a falta de acolhimento foi daí para pior. Obviamente, nunca mais fomos ao consultório dela.

A história que contei reflete muito do que as famílias passam. Chegam ao consultório, o profissional mal olha nos olhos das famílias, só se preocupam com o que deve ser trabalhado. Cada indivíduo é único, cada família tem a sua história. Por que não reservar um tempo em sua agenda e saber ouvir e acolher essas famílias? Por que não fortalecer o vínculo, uma vez que é extremamente importante a parceria entre o profissional e a família? Por que não bloquear a agenda a cada um ou dois meses e não ouvir as famílias: questionamentos, angústias e evolução que têm notado?

Parece desnecessário e perda de tempo fazer tudo isso, mas essas famílias querem ser ouvidas, olhadas e acolhidas. Um trabalho de excelência vai muito além da quantidade de certificados que tem em sua parede. Atrelar conhecimento científico com atendimento humanizado faz toda a diferença para quem o recebe, assim como seus familiares. Seja um profissional de excelência e acolha verdadeiramente cada família que lhe procurar.

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