15 de dezembro de 2020

Tempo de Leitura: 3 minutos

coluna: Matraquinha

O período escolar é uma das principais etapas de nossas vidas e o que dizer quando se trata dos nossos filhos?

As expectativas que criamos são infinitamente superiores ao que poderíamos imaginar para nós mesmos. Muitas vezes,  esperamos que aquelas crianças que têm 2 anos, tornem-se cientistas da NASA, quando adultos.

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Matraquinha

Pensamos em um esporte como natação, que dizem ser um dos mais completos, e cursos de idiomas (para os dias atuais, apenas o inglês não é mais suficiente).

Até que chega o momento em que nos damos conta de que alguma coisa não está indo muito bem. Depois de muito refletir, chegamos à conclusão de que deve ser falta de estímulo. Entramos em lojas de brinquedos educativos e compramos aqueles aramados para trabalhar a coordenação, peças com letras, números, formas geométricas etc.

Começamos os trabalhos no mesmo dia, com as horas das atividades em planilhas, afinal de contas sem esforço não teremos a recompensa. Vamos lá!

Em um belo dia, a escola marca uma reunião com a psicomotricista que nos relata as dificuldades percebidas em nosso filho e no final da conversa nos entrega um relatório que deveria ser levado a um neuropediatra.

Fizemos o sugerido e em 10 minutos de conversa com a neuropediatra, nosso filho foi diagnosticado com autismo.

Todas aquelas expectativas se foram com as lágrimas que escorriam em nossos rostos. Ficamos um tempo sem saber o que fazer, mas a vida já nos tinha mostrado a que veio alguns anos antes.

Enxugamos o rosto e definimos como principal objetivo a qualidade de vida do nosso filho. Dentro de todas as dificuldades que o autismo apresenta, nossa meta é que ele consiga e possa ser feliz.

Mesmo com pouca idade, ele já tinha passado por três escolas e todas vieram com a justificativa de que não poderiam atender às suas necessidades especiais. As mesmas escolas, que nos receberam de braços abertos e nos afirmaram que ele teria todas as ferramentas possíveis para um desenvolvimento completo e pleno.

Parece familiar este discurso?

Pois é, infelizmente é familiar para muitos de nós.

Certa vez, a diretora da escola nos chamou e explicou que ele deveria refazer a pré-escola, pois ainda não tinha habilidades suficientes para acompanhar os demais colegas e isso poderia ser muito prejudicial para sua autoestima.

Minha esposa e eu concordamos e ainda fomos avisados de que ele não teria a formatura com a turminha, pois não faria sentido, uma vez que o ano seguinte continuaria na mesma série.

Na semana seguinte, fomos convocados para outra reunião e recebemos o aviso de que ele deveria ir para o primeiro ano do fundamental por causa da idade.

Com a mesma tranquilidade que recebemos o primeiro aviso, recebemos este e já que o ano seguinte seria no primeiro ano, nada mais justo do que ele participar do encerramento deste ciclo junto com os demais amiguinhos e participar da formatura.

A diretora arregalou os olhos e disse:

Mas ele não fez os ensaios com a turma e não dá tempo para isso.

Nós respondemos:

OK, mas nada impede que ele suba ao palco vestido com a beca e pegue seu canudo, e isso ele vai fazer.

Ela ainda contestou, dizendo que o evento era muito longo e começou a lista de razões para não deixá-lo participar.

Nós fomos enfáticos e dissemos que ele não precisava dançar, recitar poemas etc. 

Depois de muitos argumentos de todos os lados, a diretora entendeu que não estávamos dispostos a privar o Gabriel daquela experiência e houve apenas uma condição: ele precisaria de um acompanhante na coxia do teatro.

No dia da formatura chegamos no horário combinado e ficamos aguardando nos chamarem para irmos até a coxia, vestir a beca e esperar o momento de brilhar.

Os amiguinhos começaram a ser chamados e quando subiam ao palco, recitavam um poema bonitinho e chamavam alguém da família para subir ao palco e concluir a cerimônia.

Quando o terceiro amiguinho subiu, chamei a professora e falei que o Gabriel também chamaria alguém especial. Ela ficou branca, e desembestou a falar, argumentando que ele não tinha ensaiado, não conseguiria, e que ele não era capaz.

Até que alguém anunciou o Gabriel, peguei na mão dele, pegamos o canudo e a mestre de cerimônia pediu para ele se sentar. Respirei fundo, levei-o até o microfone e nesse momento foi possível perceber a tensão de todos os envolvidos.

Cochichei no seu ouvido e segundos depois ele falou “mama”.

Minha esposa começou a chorar, eu comecei a chorar e quando notei todos estavam extremamente emocionados. Fomos aplaudidos e o resto é história.

Lembre-se de que a sua criança é capaz e nunca deixe o autismo ser uma sentença em suas vidas.

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Pai do Gabriel (que tem autismo) e da Thata, casado com a Grazy Yamuto, fundador da Adoção Brasil, criador do app matraquinha, autor e um grande sonhador.

Revista Autismo número 11 — Índice

Xadrez, pôquer e culinária

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